Desencontros

Ela brasileira, ele italiano. Conheceram-se na praia. Comunicação verbal "zero",  sintonia nos olhares e sorrisos.

Ela estava de férias, ele fora ver mais um de seus empreendimentos.

Três dias e se falavam como nunca. Ela falava pelos cotovelos. Ele a admirava.

Ela, 17 anos e um mundo de sonhos pela frente. Ele 34, já havia perdido alguns planos pelo caminho.

Ela queria desbravar o mundo. Ele já falava três línguas. Naquele mês ela chorou de saudade. Ele viajou com ciúmes.

Em um semestre ele queria casar, ela fugiu da resposta. No inverno ele saiu do país.  Na primavera ela conheceu alguém.

Ele fechava um grande negócio imobiliário. Ela passava no vestibular.

Ele terminou mais um relacionamento. Ela ficou noiva.

Ele tomava chá em algum lugar na Índia, ela discutia a relação com o marido.

Ele enviou um e-mail. Ela respondeu. Marcaram um encontro.

Ela chegou na hora certa. Ele ficou preso no trânsito.

Ele ligou várias vezes. Ela voltou pro marido.

Ele atravessava as madrugadas com belas companhias. Ela esperava o companheiro bêbado.

Seis anos se passam, um encontro. Ela solteira, ele acompanhado.

Ele sorrí, ela debocha da sorte.

Ela está no cinema, ele lendo um livro no mesmo shopping.

Ela escreve um livro. Ele aparece.

Ela o visita no hotel. Ele a convida pra jantar.

Ele diz que a ama. Ela o abraça forte. Ele quer filhos, ela tem contratos. Ele se chateia, ela sai e bate a porta.

Ele manda flores. Ela trabalha mais.

Ela decide-se enfim, ele já foi embora.

Tarde demais.

Por: Michele Fávero